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Dólar em Queda Livre: IPCA-15, PIB dos EUA e Leilão do BC Colocam a Moeda à Venda no Brasil
Resumo:A cena na manhã desta terça-feira, 23 de dezembro de 2025, é de clara reversão para o dólar comercial. Após fechar a véspera com uma forte alta de quase 1%, atingindo R$ 5,5914, a moeda norte-americana sofre uma guinada brusca, perdendo altitude rapidamente. Por volta das 12h16, a divisa americana era negociada a R$ 5,543 na venda, uma queda expressiva de 0,74%. O contrato de dólar futuro para janeiro na B3 seguia o movimento, recuando ainda mais, cerca de 0,95%, para R$ 5,545.

Publicado em 23/12/2025
A cena na manhã desta terça-feira, 23 de dezembro de 2025, é de clara reversão para o dólar comercial. Após fechar a véspera com uma forte alta de quase 1%, atingindo R$ 5,5914, a moeda norte-americana sofre uma guinada brusca, perdendo altitude rapidamente. Por volta das 12h16, a divisa americana era negociada a R$ 5,543 na venda, uma queda expressiva de 0,74%. O contrato de dólar futuro para janeiro na B3 seguia o movimento, recuando ainda mais, cerca de 0,95%, para R$ 5,545. Este movimento de baixa, que apaga boa parte dos ganhos do dia anterior, não é isolado. Ele representa uma resposta imediata do mercado a uma confluência de fatores domésticos e externos: um dado de inflação doméstica levemente mais brando que o esperado, um indicador de atividade econômica nos Estados Unidos surpreendendo positivamente mas de forma não inflacionária, e uma ação direta do Banco Central do Brasil (BC) para fornecer dólares ao mercado. Entender esse cocktail de variáveis é essencial para projetar os rumos da paridade Real/Dólar (BRL/USD) nas últimas sessões de um ano volátil.
O IPCA-15 De Dezembro: Uma Inflação Contida No Fim Do Ano
O primeiro capítulo da virada do dólar foi escrito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia mais confiável da inflação oficial, subiu 0,25% em dezembro. O resultado veio ligeiramente abaixo da expectativa do mercado, que, segundo pesquisa da Reuters, esperava uma alta de 0,27%. Comparado ao mês anterior, quando o índice avançou 0,20%, houve uma desaceleração modesta. Mais significativo, no entanto, é o fechamento do acumulado em 12 meses, que encerrou o ano em 4,41%. Esse número, embora acima do centro da meta, encontra-se dentro da banda de tolerância e sugere um processo de desinflação em curso e controlado. O dado trouxe alívio imediato aos mercados, reduzindo pressões inflacionárias de curto prazo e, consequentemente, a pressão por uma atuação mais agressiva do BC no front dos juros. Um ambiente de inflação sob controle tende a ser positivo para o real, pois aumenta o apetite por ativos locais e diminui a necessidade de proteção cambial. O detalhamento do índice mostrou que, dos nove grupos de produtos e serviços, dois registraram queda de preços, com destaque para Artigos de Residência, que teve sua quarta redução consecutiva.
O PIB Dos EUA Surpreende: Forte Crescimento Mas Com Nuances
Enquanto o dado doméstico acalmava os ânimos, o cenário externo também contribuiu para a queda do dólar, mas de uma maneira peculiar. O Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgou sua primeira estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) para o terceiro trimestre de 2025, revelando um crescimento anualizado robusto de 4,3%. O número superou com folga a mediana das projeções do mercado, que esperava um avanço de 3,3%. À primeira vista, um PIB forte nos EUA deveria fortalecer o dólar globalmente, indicando uma economia aquecida e potencialmente sustentando taxas de juros mais altas por mais tempo. No entanto, o contexto é crucial. Parte desse crescimento foi atribuída à volatilidade em torno de tarifas e políticas fiscais, fatores menos sustentáveis. Além disso, o principal índice de inflação acompanhado pelo Federal Reserve (Fed), o Índice de Preços de Gastos com Consumo (PCE), subiu a uma taxa anualizada de 2,8% no trimestre, acima dos 2,1% do período anterior, mas ainda dentro de um patamar que não assusta excessivamente o mercado em um cenário de crescimento vigoroso. A leitura predominante foi que a economia americana mostra resiliência sem superaquecimento inflacionário descontrolado, permitindo que as expectativas de cortes de juros pelo Fed em 2026 permaneçam intactas. Um dólar global mais fraco, antecipando um ciclo de afrouxamento monetário, beneficia moedas emergentes como o real.
A Mão Do Banco Central: Leilões De Linha Para Conter A Alta
Se os dados macroeconômicos criaram o cenário propício, foi a ação direta do Banco Central do Brasil que deu o impulso definitivo para a venda de dólares. Preocupado com a pressão ascendente de custo que uma moeda americana muito forte impõe à economia, o BC anunciou e realizou dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra futura), totalizando US$ 2 bilhões em oferta ao mercado. A operação, não vinculada a rolagem de dívida, teve o objetivo claro de injetar liquidez em dólares no sistema financeiro doméstico e conter a valorização da moeda estrangeira. O anúncio e a execução desses leilões sinalizaram aos agentes de mercado que o BC está vigilante e disposto a usar suas reservas para evitar movimentos desordenados do câmbio. Essa intervenção, conhecida como “swaps cambiais reversos”, atua como um freio poderoso, pois aumenta a oferta imediata da moeda, aliviando a pressão de demanda que vinha sendo observada, especialmente das remessas de lucros e dividendos ao exterior típicas do fim de ano.
O Pano De Fundo Político: Uma Entrevista Cancelada E Pressões Eleitorais
No campo político, um evento aguardado com tensão não ocorreu. A entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro ao portal Metrópoles, que seria a primeira desde sua prisão, foi cancelada devido a “questões de saúde”, conforme relatado pelo próprio veículo. A expectativa em torno da entrevista vinha adicionando uma camada de incerteza e volatilidade ao mercado nas últimas semanas. A perspectiva de uma candidatura presidencial do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tem sido vista por parte do mercado como um fator de risco político, na avaliação de que ele poderia representar uma competição menos competitiva frente ao atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma eventual disputa de 2026, em comparação com outros nomes como o governador Tarcísio de Freitas. O cancelamento da entrevista, pelo menos no curto prazo, removeu um elemento de tensão imediata, permitindo que o mercado focasse nos fundamentos econômicos, o que também contribuiu para a descompressão da cotação.
Cenário Externo Ampliado: Yuan Forte E O Contexto Global
A pressão de baixa sobre o dólar não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Globalmente, a moeda americana enfrenta ventos contrários. Um exemplo notável é a força do yuan chinês. O Banco do Povo da China (PBoC) injetou liquidez no sistema e fixou a paridade da moeda em seu nível mais forte desde setembro de 2024, em 7,0523 yuans por dólar. A moeda chinesa se valorizou nos mercados onshore e offshore, refletindo uma tentativa de estabilização e confiança nas políticas econômicas do país. Um yuan forte tende a pressionar o dólar index (DXY) para baixo, criando um ambiente mais favorável para a valorização de outras moedas, incluindo as de mercados emergentes. Além disso, o ambiente de final de ano, com liquidez mais fina nos mercados globais, pode amplificar movimentos causados por fluxos pontuais ou notícias, como foi o caso dos dados de inflação e PIB.
Projeções E Cenários Para O Real/Dólar Nos Próximos Dias
O movimento de forte queda observado hoje coloca a paridade em um novo patamar de teste. A região de R$ 5,54 se torna um suporte imediato crucial. A pergunta que se impõe é se esta queda representa apenas uma correção técnica após uma sequência de sete altas consecutivas, ou se marca o início de uma tendência de maior enfraquecimento do dólar frente ao real no curto prazo.
- Cenário de Continuação da Baixa (Real Mais Forte): Para que a queda se sustente, é necessário que o fluxo de dólares continue positivo. A ação contínua do BC, com novos leilões se necessário, será fundamental. Além disso, a confirmação de que a inflação brasileira segue em trajetória controlada e a manutenção das expectativas de cortes de juros nos EUA manteriam o ambiente favorável. A ausência de novas turbulências políticas domésticas também é um pilar importante. Nesse cenário, os próximos alvos para o dólar poderiam ser testar a região de R$ 5,50, um nível psicológico importante.
- Cenário de Correção e Estabilização (Dólar Lateralizado): É possível que o mercado absorva os dados e a liquidez fornecida pelo BC e entre em uma fase de consolidação. O fim do ano, com muitos investidores encerrando posições, tende a gerar menor volume e movimentos erráticos. A paridade poderia oscilar em uma faixa entre R$ 5,53 e R$ 5,58, sem uma direção clara, aguardando novos catalisadores em janeiro.
- Cenário de Reversão da Queda (Dólar Volta a Subir): Riscos permanecem. Qualquer dado futuro de inflação ou atividade nos EUA que reacenda temores de um Fed mais agressivo (menos cortes) poderia fortalecer o dólar globalmente e trazer pressão de volta ao real. Internamente, qualquer sinal de deterioração fiscal ou reacendimento de tensões políticas em torno das eleições de 2026 poderia reacender a aversão ao risco e a busca por proteção cambial. Nesse caso, os níveis de resistência a serem observados seriam a região de R$ 5,58-5,59 (topo da véspera) e, posteriormente, a marca psicológica de R$ 5,60.
Conclusão: Uma Vitória Temporária De Fundamentos e Política Monetária
A queda expressiva do dólar em 23 de dezembro de 2025 é um caso didático de como os mercados cambiais reagem a múltiplas variáveis. A combinação de um IPCA-15 doméstico benigno, um PIB americano forte porém não inflacionário, uma intervenção cirúrgica e eficaz do Banco Central e o alívio de uma tensão política imediata criaram o ambiente perfeito para uma correção da moeda americana. Para o investidor e para a economia brasileira, um real mais forte no curto prazo ajuda a conter pressões inflacionárias importadas e pode oferecer um alívio nos custos de empresas e famílias endividadas em dólar. No entanto, a volatilidade é uma característica inerente ao câmbio, especialmente em um período de liquidez reduzida como o fim de ano. A sustentabilidade dessa trajetória dependerá da persistência dos fundamentos positivos e da capacidade das autoridades em gerenciar expectativas e riscos, tanto econômicos quanto políticos, que certamente ressurgirão com a virada do calendário para 2026. A lição do dia é clara: em um mundo de altas incertezas, a ação coordenada de dados e política monetária ainda é a força mais poderosa para orientar o destino do real frente ao dólar.

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